Jeferson De lança nos EUA 'Correndo atrás', filme brasileiro com elenco quase todo formado por negros

cineasta Jeferson De acaba de fazer a estreia mundial do filme "Correndo atrás", em Los Angeles, no Pan African Film Festival, a maior e mais prestigiada mostra de arte e de cinema negro das Américas, que começou no dia último dia 8 e termina nesta segunda (19). O longa-metragem tem como diferencial o fato inédito de ter levado à tela um elenco quase todo formado por atores negros brasileiros. Por trás das câmeras, a mesma coisa, e a equipe de produção, e principalmente os diretores, assim como Jeferson, também são afrodescendentes.
"A gente acha importante mostrar um Brasil ligado à cultura negra, com pessoas negras na tela e que, no entanto, a violência não é a protagonista. Os protagonistas são as pessoas, homens e mulheres comuns, trabalhadores construindo esse Brasil. Porque a impressão que dá é que sempre que a gente vai para a favela, que tem pessoas negras, sempre tem o tiro, a polícia, a violência. Então, o filme é uma declaração de amor e uma ode à alegria, embora a gente tenha muita tristeza e ressentimento, mas talvez a gente consiga transformar tudo isso em alegria."
Para o cineasta, esta foi uma forma de mostrar o trabalho e também protestar contra a falta de inclusão no meio cinematográfico.
"Politicamente era importante mostrar o que a gente é capaz de fazer e que a gente já conta com uma equipe experiente no Brasil, fazendo filmes, e que nem sempre ocupa o espaço de poder na cadeia cinematográfica."
O primeiro levantamento da Agência Nacional do Cinema (Ancine) a contemplar dados sobre raça acaba de ser divulgado e revela em números essa disparidade. Lembrando que 54% da população brasileira é formada por afrodescendentes, o estudo feito a partir dos filmes lançados em 2016 mostra que 75,4% das produções analisadas foram dirigidas por homens brancos, 19,7% por mulheres brancas e 2,1% por homens negros. Nenhuma mulher negra aparece na estatística.
"A gente tem essa disparidade muito grande, principalmente se a gente considera que somos mais de 50% da população, e no Brasil se faz cinema com dinheiro público, ou seja, com o dinheiro dessa população negra. No entanto, a gente não está conseguindo produzir os nossos filmes. Essa história não está sendo contada nos nossos cinemas do ponto de vista dos negros".
Jeferson comenta que os grandes filmes brasileiros mundialmente conhecidos como "Tropa de Elite" e "Cidade de Deus", que estão ligados à cultura negra urbana não foram contados, ou raramente, por uma pessoa negra.
"Lembrando de maneira ainda mais importante a pouca presença das mulheres negras produzindo filmes. Essas, sim, são a maioria da população brasileira e no entanto a gente não tem diretoras negras no Brasil. A última e única a dirigir um filme foi Adélia Sampaio, com "Amor Maldito", há mais de 30 anos."

'Correndo atrás', o filme

Jeferson De, que dirigiu o premiado filme "Bróder" e também escreveu o "Dogma Feijoada" (um movimento que no ano 2000 produziu filmes centrados na temática racial e buscou desenvolver um conceito de cinema negro brasileiro), agora experimenta a comédia. "Correndo Atrás" foi rodado em Muriaé, Minas Gerais, São Paulo e no Rio de Janeiro, com um orçamento de R$ 5 milhões aprovado na Lei do Audiovisual. O longa é uma adaptação do livro "Vai na Bola, Glanderson", do comediante Helio de La Peña – que também assina o roteiro junto com De e faz uma participação especial como ator.
G1 

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