Nesta terça-feira, o Liverpool recebe o Bayern de Munique, às 17h (de Brasília), pelo jogo de ida das oitavas de final da Champions League.
Essa partida colocará frente a frente no campo algumas das maiores estrelas do futebol mundial, com valores de mercado estratosféricos e responsáveis por transferências milionárias nos últimos anos.
Entre todas essas figuras, poucos tiveram que superar tantos obstáculos antes de alcançarem o topo do futebol europeu quanto o volante Naby Laye Keita, dos Reds.
O atleta nasceu em Conacri, capital da Guiné, que é um dos países mais pobres do mundo - na lista de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da ONU (Organização das Nações Unidas), aparece na 175ª posição de um total de 189 nações.
Ele começou a jogar pelo Horoya, de seu país, em 2013, e rapidamente chamou a atenção do pequenino Istres, da França, que o levou para um período de testes na mesma temporada.
Foi lá que ele conheceu o atacante Rafael Assis, ex-Fluminense e atualmente no Náutico, com quem formou fortes laços de amizade. Em entrevista à ESPN, o brasileiro recordou alguns dos perrengues que Keita passou até se firmar.
"Eu recordo muito bem do Keita... Keitá, não. Tínhamos o costume de chamá-lo de Naby. Lembro de uma resenha bacana dele, mais uma história de vida. Ele foi ao clube [Istres] para fazer testes, não chegou como contratado. Por isso, ele morava com o nosso roupeiro, na época, num quartinho. Ele não passava dificuldades, mas não tinha muita coisa, sabe?", lembrou Assis, que ilustrou a passagem com outra história tocante.
"Houve uma vez em que fomos ao shopping fazer umas compras, eu, meu amigo brasileiro, um outro amigo francês, e ele foi com a gente. E aí estávamos todos empolgados lá, comprando as coisas, mas ele estava sem dinheiro nenhum na época. E ele ficou ali, olhando a gente comprar as coisas", rememorou.
"Imediatamente nós falamos pra ele que ajudaríamos, faríamos uma vaquinha para ele comprar o que quisesse junto com a gente. Essa história é algo que sempre lembro, quando estou em casa, ou com meus amigos. Por isso falo que todo o sucesso que ele tem agora é fruto de muito trabalho, e ele merece muito isso, porque é muito humilde, um cara muito do bem", elogiou.
Keita, aliás, nunca escondeu que adora jogadores brasileiros, e muito disso é devido a toda a ajuda que Rafael Assis deu ao colega no início de carreira.
"Todo jogador estrangeiro gosta muito do brasileiro. A gente chega no exteriore é muito bem recebido, bem tratado. Eles têm um carinho muito grande pela gente. Com o Naby era a mesma coisa. A gente não entendia muito o que ele falava (risos), mas a gente tava sempre junto, almoçávamos juntos, jantávamos juntos", contou.
"Foi uma amizade muito bacana que fizemos. Ele também era um cara muito humilde, muito simples, e isso ajudava o nosso relacionamento. Perdemos um pouco o contato nos últimos anos, mas fico feliz por ter feito amizade com um cara como ele", afirmou.
Quanto às características de jogo, porém, Keita não é muito "brasileiro", segundo Assis.
"Ele jogava mais como volante, não tinha essa característica do drible, como eu. Nessa época, lá na França, acho que só eu, pra falar a verdade, tinha essa característica, de fazer mais jogadas individuais", salientou.
"Mas ele era um jogador de muita força, com boa pegada para marcação, saía muito bem para jogo também. A gente brincava ali nos bobinhos, nos treinamentos, mas ele era um cara mais de marcação no time", explicou.
SUCESSO RÁPIDO NA EUROPA
Aprovado nos testes do Istres, Keita não demorou para mostrar que era mesmo diferenciado.
Ele necessitou de apenas 23 jogos pela equipe francesa para despertar a cobiça do ricaço Red Bull Salzburg, da Áustria, que o contratou em 2014 por 1,5 milhão de euros (R$ 6,34 milhões, na cotação atual).
Em dois anos em Salzburgo, foram dois títulos do Campeonato Austríaco e mais dois da Copa da Ásia, com atuações de enorme destaque para o africano (na soma, 20 gols em 84 jogos, número mais que excelente para um meio-campista defensivo).
O próximo passo foi a transferência para o RB Leipzig, da Alemanha, em 2016, por 29,75 milhões de euros (R$ 125,73 milhões)
Na Bundesliga, ele manteve um nível altíssimo, com 16 tentos anotados em 71 duelos. E, apesar de não ter ganho títulos, logo chamou a atenção do técnico Jurgen Klopp, do Liverpool, que pediu sua contratação.
Ela saiu por incríveis 60 milhões de euros (R$ 275 milhões). Algo gigantesco para o garoto que saiu sem nada da Guiné e morou de favor no quartinho do roupeiro há apenas seis anos.
Acompanhando de longe o sucesso do amigo, Rafael Assis vibra com o crescimento de Keita na carreira.
"Fico muito feliz, de verdade, pelo Naby. Quando vi a chegada dele ao Liverpool, fiquei bastante feliz. Também o acompanhei jogando no Leipzig, em que teve ótima passagem, fez um ótimo Campeonato Alemão, e foi aí que surgiu o interesse do Liverpool, inclusive", exaltou.
"Fico muito feliz por ele, um cara que merece, muito humilde, que tem um grande futebol. Hoje, com ele arrebentando, fazendo sucesso, pegando seleção, que sempre foi o sonho dele, fico muito feliz", acrescentou.
"Eu sempre esperei que ele teria grande sucesso no futebol, porque era um jogador de grande qualidade. Eu sempre admirei bastante o jogo dele, e todo o sucesso que está conseguindo agora é fruto de muito trabalho", finalizou.
ESPN
BORGES NETO LUCENA INFORMA