Intolerância às religiões de matriz africana é tema de palestra da UFPB

O Departamento de Ciências Fundamentais e Sociais, no campus de Areia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), no Brejo paraibano, realizará nesta quarta-feira (2), às 19h30, a palestra “Militância Negra e Religiosidade”. 
A ação será transmitida pelo espaço virtual do Google Meet. Inscrições gratuitas poderão ser realizadas pelo Sistema Integrado de Gestão de Eventos (Sigeventos) da UFPB. 
O debate contará com a participação da produtora cultural e integrante do Movimento de Mulheres Negras da Paraíba, Carolina Porto, e mediação do professor da UFPB, Rosivaldo Gomes. 
A atividade é parte do projeto de extensão “Fortalecimento da identidade afro-brasileira e enfrentamento do racismo”, que é uma iniciativa de professores, estudantes, técnico-administrativos e pesquisadores do Centro de Ciências Agrárias, do qual faz parte o Departamento de Ciências Fundamentais e Sociais.
“A proposta do projeto foi originalmente planejada para atuar nas escolas da rede municipal de ensino de Areia. Devido à pandemia, passamos a realizar as atividades em ambiente virtual, a partir de página do projeto no Instagram e os debates realizados on-line”, explica Rosivaldo. 
O professor da UFPB afirma que as ações do grupo de pesquisadores têm o objetivo de dar visibilidade ao debate das relações étnico-raciais. Além de destacar a importância de a universidade pública participar da construção de uma sociedade cidadã, inclusiva e livre do racismo. 
“Consideramos que fortalecer a identidade é um dos caminhos para enfrentarmos e superarmos o legado excludente da sociedade escravagista. Assim, poderemos contribuir para a superação de uma visão eurocêntrica de sociedade e de educação”, destaca Rosivaldo. 
Ao discutir o tema, o grupo de pesquisadores da UFPB tem como referência a necessidade de consolidação da Lei 10.639/2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”. 
“Em uma tentativa teórica de explicação, vem ganhando espaço na sociedade o conceito de racismo estrutural. Ele considera que a estrutura da sociedade brasileira impede que os negros superem a condição de desigualdade herdada da sociedade escravagista”. 
Rosivaldo acredita que é urgente a busca de uma efetiva educação para as relações étnico-raciais. O professor enfatiza que, quando o grupo traz ao debate os temas militância negra e religiosidade, busca promover reflexão sobre o combate ao racismo. 
“É preciso reforçar a reflexão sobre a necessidade e a importância dos movimentos sociais, como forma de enfrentamento do racismo presente em nossa sociedade. O racismo está, principalmente, na forma de exclusão social, de violência, de genocídio da população negra e de intolerância religiosa”. 
O tema do debate da UFPB abrange, segundo o professor Rosivaldo, a perspectiva de uma sociedade laica. O grupo assevera que a sociedade brasileira tem de respeitar a diversidade religiosa e identificar a importância da cultura afro que há no Brasil. 
“Assim poderemos nos fortalecer e afirmar nosso lugar nos mais diversos espaços sociais.  Superar a ideia racista que busca naturalizar a condição de vulnerabilidade social da imensa maioria da população negra brasileira. Fazemos esse debate pela necessidade de superar a farsa da democracia racial”, acentua Rosivaldo. 
Lei 11.635/2007 instituiu o dia 21 de janeiro como data para enfrentar o racismo religioso no Brasil. É o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa. O dia marca a morte de Mãe Gilda, sacerdotisa do Ilê Axé Abassá de Ogum, em Salvador, na Bahia. 
Entre 2015 e 2017, conforme dados do Disque Denúncia, a cada 15 horas um relato de violência por motivo de intolerância religiosa foi denunciado. Na Paraíba, o número de casos cresceu 984% em cinco anos. 
De acordo com o levantamento realizado pelo Fórum Paraibano da Diversidade Religiosa, em 2014, oito casos foram registrados na Paraíba. Até novembro de 2019, foram feitas 123 denúncias. 
“Para que possamos enfrentar o crime racial na sociedade brasileira de forma séria – com políticas públicas efetivas, movimento social forte e cidadania – partilhamos da ideia de que, sem enfrentamento do racismo, não há democracia”. 
O professor Rosivaldo reforça que o trabalho do grupo da UFPB – enquanto professores, estudantes, técnicos e pesquisadores envolvidos – partilha “o compromisso com uma universidade pública, humanista e cidadã”. Para eles, “vidas negras importam”. 

Ascom UFPB

BORGES NETO LUCENA INFORMA