De cocar, Bolsonaro recebe no Ministério da Justiça a medalha do mérito indigenista


 O presidente Jair Bolsonaro vestiu um cocar nesta sexta-feira (18) para receber, em cerimônia no Ministério da Justiça, a medalha do mérito indigenista.

A medalha é uma honraria criada em 1972, para homenagear as personalidades que se destacam pela proteção e promoção dos povos indígenas brasileiros.

No "Diário Oficial da União" de quarta-feira (16), já havia sido publicado que Bolsonaro estaria na lista dos agraciados deste ano. A premiação é definida pelo ministro da Justiça, Anderson Torres.

A escolha de Bolsonaro para receber a medalha não foi bem recebida entre entidades e associações representativas dos povos indígenas.

Isso porque, ao longo do mandato, o presidente tem tomado decisões que são vistas como prejudiciais para a cultura e segurança dos povos indígenas.

No discurso no evento, Bolsonaro se dirigiu a indígenas presentes. Ele agradeceu o cocar oferecido e disse que o homem branco e o indígena "cada vez mais" se transformam "em iguais".

"Me sinto muito feliz com este cocar graciosamente ofertado. Somos exatamente iguais. Todos nós viemos à terra pela graça de Deus. Cada vez mais nos transformamos em iguais. Isso não tem preço. O que nós sempre quisemos foi fazer com que vocês se sentissem exatamente como nós", afirmou o presidente.

Bolsonaro também voltou a argumentar que os indígenas estão, agora, mais integrados à sociedade. O presidente disse ainda que deseja que os indígenas “façam em suas terras exatamente o que nós fazemos nas nossas”. Ele não citou a mineração e produção de grãos, mas essas são duas atividades que o presidente sempre defende que possam ser flexibilizadas em terras indígenas.

Também receberam a medalha no evento desta sexta líderes indígenas, o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai) e ministros do governo, como Bruno Bianco (AGU), Augusto Heleno (GSI) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo).

Condecoração contestada

O blog do Octavio Guedes lembrou que, quando era deputado, Bolsonaro disse que a cavalaria brasileira foi incompetente por não ter dizimado os indígenas.

No dia em que saiu a condecoração no "Diário Oficial", a líder indígena Sônia Guajajara, coordenadora-executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), afirmou que a homenagem a Bolsonaro é uma afronta.

"É claro que é uma afronta total ao movimento indígena, ao ato pela terra, a tudo que a gente está fazendo para contrapor todas essas maldades desse governo", afirmou Guajajara.

Ela disse também que a Apib vai contestar a condecoração na Justiça.

A condecoração a Bolsonaro fez com que Sydney Ferreira Possuelo, ex-presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai) e ativista, devolvesse sua medalha do mérito indigenista recebida há 35 anos.

Possuelo, reconhecido indigenista, afirmou que Bolsonaro ofendeu "crença", "desejos" e "memória" de marechal Rondon e "por extensão o Exército Brasileiro".

"Quando deputado federal, o senhor Jair Bolsonaro, em breve e leviana manifestação na Câmara dos Deputados, afirmou que: ' A cavalaria brasileira foi muito incompetente. Competente, sim, foi a cavalaria norte-americana que dizimou seus índios no passado e hoje em dia não tem esse problema no país' ", relatou Possuelo no documento, endereçado ao ministro Anderson Torres.

Atos de Bolsonaro em relação aos indígenas

No ano passado, a Apib denunciou o presidente ao Tribunal Penal Internacional de Haia por incentivar a invasão de terras indígenas por garimpeiros.

Já em 2020, o presidente causou reações negativas após dizer que "cada vez mais, o índio é um ser humano igual a nós".

Na Assembleia Geral das Nações Unidas de 2019, ao fazer o seu discurso de abertura, ele disse que o cacique Raoni Metuktire era usado como "peça de manobra" por governos estrangeiros.

Raoni é uma das personalidades já agraciadas com a medalha.

Neste ano, ao sancionar o orçamento para 2022, o presidente cortou verbas voltadas destinadas à proteção e promoção de povos indígenas que haviam sido aprovadas pelo Congresso.

O presidente também é contrário à demarcação de novas terras indígenas, e seu governo tem defendido a liberação do garimpo nas áreas já demarcadas.

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