Ariano Suassuna: um tributo em homenagem ao escritor paraibano que faria 95 anos hoje

 

Nesta quinta-feira (16) de junho, o escritor e dramaturgo paraibano Ariano Suassuna completaria 95 anos se ainda estivesse vivo. Em 2007, quando completou 80, Ariano foi entrevistado pelo apresentador e também escritor Jô Soares no já extinto “Programa do Jô”. Na ocasião, ao ser questionado pelo apresentador sobre o que estava achando das comemorações pela passagem do seu aniversário, respondeu de forma bem humorada, como, aliás, lhe era característico: “Estão fazendo um chamego tão grande, que estou preocupado quando completar 160”. Conheça mais da trajetória desse grande brasileiro e nordestino.

Em outra oportunidade, desta vez em uma de suas aulas-espetáculo, Ariano levou toda a plateia às gargalhadas quando disse que o título de “imortal” outorgado pela Academia Brasileira de Letras não servia para muita coisa, ele queria mesmo era ser “imorrível”. Infelizmente, o seu desejo era tão inverossímil quanto o nosso de que algo assim fosse realmente possível — Ariano nos deixaria em 2014, um mês após o seu aniversário de 87 anos, embora nunca tenha morrido de fato, porque se é verdade que um autor vive por meio da sua obra, os seus livros, por tudo aquilo que tem de perene e eterno, conservam até hoje a plenitude da sua existência.

A paixão de Ariano pela vida e a maneira apaixonada como viveu, contrasta, por outro lado, com um passado cruel e fatídico. Quando ele tinha apenas três anos de idade, seu pai, João Suassuna, ex-governador da Paraíba, foi brutalmente assassinado com um tiro nas costas, vítima das conturbações políticas da época e da animosidade causada pela tragédia envolvendo seu arquirrival João Pessoa, também assassinado naquele mesmo ano sangrento de 1930.

A morte do seu pai despertou um sentimento irreprimível de perda e angústia, uma cicatriz profunda que o dilacerou por completo. A sua primeira peça, a tragédia Uma Mulher Vestida de Sol, de 1947, e também outras subsequentes, como Cantam as Harpas de Sião (1948), Os Homens de Barro (1949) e O Arco Desolado (1952), demonstram bem essa atmosfera obscura que rondava o imaginário do escritor. Ele mesmo, certa vez chegou a revelar que quando não sabia o que fazer com uma personagem, dava um jeito de matá-la. Essa tendência só passou a ser matizada quando Ariano conheceu o grande amor de sua vida, dona Zélia, com quem foi casado até o dia da sua morte. Zélia foi mesmo um divisor de águas na vida de Ariano, foi ela, como ele próprio admitiu, que “desatou o nó” e permitiu a irrupção do cômico e do sonho em sua escrita.

Contudo, se num primeiro momento, a morte de João Suassuna desencadeou em Ariano uma violenta sensação de ausência e tristeza, num segundo momento, a memória associada ao curto período de convivência que teve com seu pai, fez despertar um ímpeto desesperado por Justiça, fazendo da sua obra, ao mesmo tempo, uma tentativa de reconstrução heroica desta figura paterna e um protesto contra a sua morte. É o que o próprio escritor confessa em um fragmento retirado do seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras: “Posso dizer que, como escritor, eu sou, de certa forma, aquele mesmo menino que, perdendo o pai assassinado no dia 9 de outubro de 1930, passou o resto da vida tentando protestar contra sua morte através do que faço e do que escrevo, oferecendo-lhe esta precária compensação e […] buscando recuperar sua imagem, através da lembrança, dos depoimentos dos outros, das palavras que o pai deixou”[2].

Ariano na política – Com forte atuação política, inclusive partidária como secretário de Cultura de Pernambuco (1994-1998) e secretário de Assessoria do governador Eduardo Campos até abril de 2014, o que Ariano ouviria de seu filho sobre a situação atual do Brasil certamente iriam no sentido oposto a tudo que o escritor sonhou por toda vida. “O país entrou em uma política entreguista. Apesar de o governo dizer que é nacionalista, isso é mentira. Ele estaria muito triste com a política do Brasil”, prevê Dantas. Mas essa é apenas uma das facetas da nação, e Ariano costumava diferenciar o Brasil oficial, dos privilegiados, do Brasil real, do povo. E sobre esse último há muito que se ter esperanças ainda. Como o próprio Ariano falou em seu discurso de posse na cadeira número 32 da ABL. “Não é desprezo pelo que é nosso, não é desdém pelo meu país. O ‘país real’, esse é bom, revela os melhores instintos. Mas o ‘país oficial’, esse é caricato e burlesco”, definia ele. O que Manuel Dantas falaria para seu pai é que a diferença entre essas duas formas de viver e enxergar o país só fez se expandir desde a sua morte. “O Brasil profundo continua, mas a disparidade aumentou”, acredita. Veja mais detalhes: https://www.ebiografia.com/ariano_suassuna/

PB AGORA


BORGES NETO LUCENA INFOMRA

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