Autismo: fonoaudióloga alerta que inclusão na escola ainda é um desafio e revela que "muitas escolas não capacitam os professores"

 


Apesar de todo o acesso à informação e legislação vigente relacionada ao Autismo, a inclusão, principalmente na escola, ainda é um desafio, segundo a fonoaudióloga Jacielle Almeida. Em entrevista ao ClickPB, a profissional que trabalha há quase 20 anos com crianças autistas chamou a atenção para a capacitação dos professores. 

"A escola tem que ser inclusiva. Tem que estar preparada para receber essa criança. A capacitação dos professores é um ponto que chama a atenção. Muitas escolas não capacitam os professores para receber essa demanda. O professor tem que saber o que é autismo, como manejar alguns comportamentos, até para saber mediar a interação social dessa criança com os demais alunos da sala de aula. Esse aluno vai precisar que a professora esteja mais atenta", alertou. 

Segundo Jacielle, atualmente muitas escolas têm mais de dois alunos por turma e precisam estar capacitadas para receber essas crianças e saber como manejar tudo o que elas precisarem, para que consigam se desenvolver no ambiente escolar. 

"Tem crianças que se desenvolvem e se adaptam super bem na escola. Depende muito de como essa classe o recebe, de como essa professora está preparada para recebe-lo também, e como a escola está preparada junto com toda a equipe escolar para receber essa criança", destacou. 

Conforme apurado pelo ClickPB, de acordo com a Lei Berenice Piana, 12.764/2012, é direito do autista ter um acompanhante especializado na sala de aula, desde que seja comprovada a necessidade. A legislação exige que esse profissional seja especializado em autismo, educação inclusiva ou desenvolvimento infantil.

"As escolas têm que ter. É lei e tem que ser cumprida. Porém, na prática a gente não vê muito bem ela funcionar da forma como deveria. A lei exige que tenha um mediador. Como é lei, a escola tem que separar um profissional que seja capacitado e entenda o que é o autismo e saiba manejar alguns comportamentos que vão ser necessários na lida com o autista. É importante ter essa capacitação e é o que a gente não vê em muitas escolas. Pega qualquer profissional que tem dentro da escola e coloca ali para mediar esse comportamento e as vezes não vai ser tão eficaz quanto uma pessoa que saiba o que é, que saiba quais dificuldades e que entenda como manejar esses comportamentos", enfatizou Jacielle Almeida, ao ClickPB. 

Retardo da fala 

Como apurado pelo ClickPB, uma das características do autismo na infância é o retardo da fala. Uma criança autista geralmente demora a falar ou até mesmo apresenta dificuldades em se comunicar com os pais, que devem ficar atentos a esse detalhe já nos primeiros anos de vida, segundo Jacielle Almeida.

"A partir do momento em que os pais percebem que ali por volta dos dois anos a criança não está falando bem, não está formando frases com um vocabulário mais abrangente com mais ou menos 50 palavras, já é para procurar um fono pra se observar. Seja o autismo ou não. A partir do momento em que a criança tem um atraso na fala, no desenvolvimento da linguagem, já é indicativo de procurar ajuda profissional. Muitos pais deixam para depois. Quanto mais cedo iniciar essa intervenção, melhor vai ser o desenvolvimento dessa criança", alertou. 

Apraxia da fala 

A apraxia da fala (AFI) é um distúrbio neurológico na condição motora da fala, criando dificuldades na pronúncia de palavras, sílabas, sons e também é uma das características do autismo relacionada à comunicação verbal. De acordo com Jacielle Almeida, a AFI quando tratada corretamente, a criança pode desenvolver e conseguir ter uma perspectiva melhor de vida com o tempo. 

"O cérebro deste indivíduo falha na emissão desses fonemas de forma adequada. Para ele, há uma dificuldade muito grande de planejamento motor dos articuladores da fala. Uma das características da apraxia de fala é justamente esses erros na emissão dos fonemas. É uma criança que tem o vocabulário mais pobre, não tem tantas palavras. A criança apráxica entende tudo o que ela fala, mas ela falha nessa produção. Muitas vezes ela fala, mas não é compreendida. Dependendo da intervenção com fonos e psicólogos, ela tem um prognóstico bom e consegue desenvolver. O objetivo do tratamento é fazer com que ela tenha essa qualidade de vida e melhore a produção da sua comunicação", afirmou. 

Diagnóstico tardio

Um dado recente mostrou que o Brasil tem quase 6 milhões de pessoas autistas. Como visto pelo ClickPB, recentemente a atriz Leticia Sabatella, de 52 anos, descobriu que é autista. Assim como ela, outros famosos, como o bilionário Elon Musk e o ator Anthony Hopkins também descobriram que possuem o TEA já na fase adulta. Pra Jacielle Almeida, esse diagnóstico é feito da mesma forma da infância. 

"Tem pessoas que têm o nível um de suporte, que essas características são bem sutis, mas com certeza ela teve algum prejuízo ela deve ter tido durante a sua vida toda até a sua idade atual. Algo a levou a procurar e buscar um diagnóstico e entender alguma coisa do comportamento que ela apresentava. São esses sinais: interação social, comunicação social, interesses restritos, padrões repetitivos... que vem desde criança. Ela pode ter tido alguma dessas características mascaradas e não ter levado tanto em consideração e só agora buscou ajuda para entender algo que devia estar incomodando", concluiu.

CLICKPB


BORGES NETO LUCENA INFORMA

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