Após novos casos de Covid-19, Espanha confina cerca de 1 milhão em bairros pobres de Madri a partir de segunda

 A partir de segunda-feira (21), mais de 850 mil moradores de Madri, ou 13% da população da capital espanhola, que vivem em regiões desfavorecidas da zona sul, não poderão deixar seus bairros a não ser por motivos essenciais como trabalhar, ir ao médico ou levar filhos à escola.
Diante da explosão de casos de Covid-19, Madri impôs restrições de entrada e saída a oito bairros, principalmente os mais pobres e que concentram boa parte da imigração. O descumprimento das regras de restrição sanitária será punido com multas de pelo menos € 600 (cerca de R$ 3.800).
Cerca de 640 mil pessoas foram diagnosticadas com Covid-19 na Espanha, disseram autoridades de saúde na sexta-feira (18), com um aumento de 4.697 nas últimas 24 horas. Quase 30.500 pessoas morreram.
As áreas afetadas pelas novas medidas de segurança localizam-se principalmente no sul da capital espanhola e na região da Grande Madri, onde a precariedade é maior do que em outras localidades e onde há graves problemas de superlotação, o que multiplica as possibilidades de contágio.
A falta de recursos econômicos faz com que muitas famílias, compostas principalmente por migrantes, sejam obrigadas a compartilhar pequenos espaços nesses bairros populares, onde a renda per capita também é muito inferior à média nacional, com abundância de trabalhadores manuais, que usam principalmente os transportes público.
“A entrada e saída nessas áreas são restritas, exceto para questões básicas necessárias, como assistência médica, trabalhista, legal, obrigações educacionais, o cuidado de idosos, ou qualquer questão de força maior. É permitida a circulação dentro destes perímetros, mas as reuniões privadas terão de ser reduzidas a seis pessoas e a atividade em parques e jardins está suspensa até novo aviso”, anunciou a prefeita de Madri, Isabel Díaz Ayuso.
Segundo ela, é preciso evitar o confinamento para evitar um desastre econômico. “Não achamos que seja hora de impor restrições a todos os cidadãos, mas sim aplicar medições em áreas que identificamos como de risco", afirmou.
Imigrantes se sentem abandonados
Moradores dos bairros mais pobres de Madri se sentem abandonados e estigmatizados e temem que estas novas restrições lhes roubem uma fonte de renda valiosa. Ayuso foi criticada nesta semana por dizer que "o estilo de vida do imigrante" foi parcialmente responsável pelo forte aumento nos casos de contaminação nessas regiões.
Vallecas, um dos bairros afetados pelas medidas, no sul da capital, concentra um alto índice de pobreza e imigração e tem uma das maiores taxas de infecção de Madri, seis vezes mais que o bairro nobre de Chamberi, no norte. O sistema de saúde de Vallecas está "paralisado", reclamou uma aposentada, Mari Paz Gonzalez. "Estamos abandonados. Eles nos deixaram nas mãos de Deus".
“Assim que você cruza a ponte, as coisas mudam, desde que você mude de bairro", acrescentou outra aposentada, Carmen Ibarra, nas ruas de Vallecas.
Os moradores de Vallecas disseram neste sábado ter dúvidas sobre a eficácia da medida.
“Essas restrições são totalmente inúteis porque temos que viajar de uma área que tem muitos casos para outra que tem menos e vamos espalhar”, disse Feli, 48 anos, funcionário público que mora em Vallecas.
A líder regional Isabel Diaz Ayuso disse que as áreas foram escolhidas porque os níveis de contágio ultrapassaram 1.000 por 100.000 pessoas. A polícia será enviada para que o bloqueio seja cumprido o bloqueio, disseram as autoridades neste sábado.
"As pessoas não vão obedecer porque muitas pessoas nem sequer têm conta. Se as multarem, como vão conseguir o dinheiro?" disse Lola, 56 anos, que trabalha como faxineira.
A professora Mercedes, de 45 anos, apoiou as medidas, mas disse que a pobreza era mais perigosa do que a Covid-19.
"Se duas, três ou sete famílias moram em um apartamento pequeno, como podem manter distância?", questiona.
A série de novas restrições chega também em um momento em que o governo de Madri, do Partido Popular [de direita], e sua chefe, Isabel Díaz Ayuso, recebem fortes críticas da oposição e dos sindicatos por seus constantes erros na gestão da crise, incluindo a falta de investimento no setor de saúde, que pode transbordar se a pandemia continuar a crescer.
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BORGES NETO LUCENA INFROMA